quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Uma carta de Natal diferente


Recebi essa carta da minha mãe... ela me fez rir, chorar, pensar, rir novamente e chorar....
Quero compartilhar essa riqueza com vocês pois compartilho dessas idéias :)
Beijos compartilhantes




22 de dezembro de 2009

Carta para pessoas do meu bem querer


Há muito tempo os meus pais me repreendem e riem da minha viagem, “voação”, “lerdisses” e distrações. Há muito tempo meus (minhas) amigos(as), parentes, colegas de profissão, pessoas com as quais eu compartilho trabalhos também acham graça dessa minha maneira de ser: sem atenção. Maneira meio desligada de olhar o mundo. Engraçado que também sou considerada um tanto ligada na tomada. Dois extremos. Duas margens opostas. Ainda farei uma travessia. Quero a terceira margem.

 A verdade, se é que ela existe, é que acho bonitos os ipês quando estão floridos, totalmente brancos como se quisessem explodir de tanta coisa que têm a falar. Nesses momentos (Clarinha, Paty, Patinha, Iara) é que tiro a mão do volante e quase coloco a vida de vocês em risco. (risadas lacrimais) Só por ficar “ainda” estupefata diante dessas coisas que existem do lado de fora. Ainda.

O cartão de crédito na geladeira talvez seja o meu inconsciente querendo congelar as relações de consumo.  A escovação dos dentinhos da clara com hipoglós, pode ser um jeito de dizer a ela de forma não convencional que podemos usar os objetos do mundo de um outro jeito. Desculpas a parte para essa “voação”. O mundo é chato demais às vezes. A gente acaba criando estratégias de sobrevivência.

Eu não queria dar presentes para ninguém neste natal.  Ainda estou pensando se   vou ter que fazer isso para não estragar as convenções e as expectativas impostas pela TV e pelas tradições.  Há muito tempo tenho pensado em outras formas de dar presentes. Não gosto de comprar coisas porque a tradição e a TV me mandaram fazer isso. Eu gosto muito de dar presentes fora das temporadas. Estou bem farta de obediências a essas regras sociais. Eu prefiro sair com você, ir pra uma praça e ler-te calmamente um poema concreto que seja. Depois a gente toma um sorvete ou um café, ou um chá. Só para mudar as regras. Só para tentar alternativas às relações de troca que estabelecemos com o(a) outro(a). Algo está errado. Parece que se a gente não comprar para presentear no natal, a gente é sem educação, sem fineza, sem amor ao próximo, sem atenção.

No ano passado eu e o Du, meu chuchuzinho, fizemos geléias de acerolas e distribuímos para nossos amigos, parentes e afins. Foi um ato de cuidado e amor. Acreditem! Mas sei que não foi um presente esperado. Talvez alguns nem tenham experimentado, de repente a geléia até se perdeu na geladeira, talvez alguns tenham gostado ou achado criativo esse ato de fazer e dar geléias. Outros tenham esperado algo mais. Mas a verdade é que essa época não me deixa eufórica, feliz, cheia de presentes pra dar. Essa época me faz pensar nas relações. E eu quero outras relações. Não posso impor isso a ninguém, mas faço votos que possamos nos entender por outras vias.

 Outra coisa viu, Não quero saber de jantares e ceias à meia noite. Isso é muito chato. Quero te dar um beijo. Não à meia noite porque é natal.

Teve uma época na minha vida, uma infância talvez, que as festas de natal me davam uma alegria e euforia imensas. Mas hoje eu acredito, pelo passar dos anos, que isso se dava pelos encontros que minha tia Delma e minha Vó Ester ofereciam. Na verdade, os presentes eram detalhes sem importância. A tia Delma me oferecia a oportunidade de fazer música, poesia, teatro e dança no natal. A idéia era encontrar. Como eu era pequena, não sei bem ao certo se por traz disso os adultos se debatiam ou escondiam suas fragilidades, se ofendiam ou sei lá o que e a quê “IAM”... O fato é que minha diversão era nascida e renascida pelo encontro. Hoje, a tia Delma faz isso pela interntet. Ela tem um blog! Ela é generosa. Põe ali tudo que conheceu que vê, que sente, compartilha notícias, relembra fatos, se indigna, se emociona. Acho bonito quem tem um blog, não para falar de si somente, mas para fazer compartilhamentos de vida.

Olha tia Delma, vou te dizer uma coisa: Esse é o seu presente para as pessoas. Não se incomode em ter que dar presente mais pra ninguém na sua vida. Nem mesmo para seus netos. Esses são os presentes que vamos ganhando na vida. Obrigada tia Delma. Não vou te dar presente, mas posso sair com você um dia desses e ler ou dançar pra você um poema, um Hai Kai... Quer?

Posso fazer isso com e para cada um de vocês aos quais eu dedico essa carta. Depois de certa idade, não dá mais pra fingir que o tempo não passou. Não dá mais pra fingir que não gosto disso, mas vou fazer para agradar, para não sair das convenções. Posso me dar a esse desfrute. Qualquer coisa, alguém se desculpa por mim: “Ela é assim mesmo. Artista é assim mesmo”. Ou, voltando ao início da carta: “Ela é desligada”!

Eu acho os ipês simplesmente indescritíveis na seca do cerrado. Largo a mão do volante por não conseguir me dar conta desse milagre. Para mim, milagre é isso. Isso é melhor que qualquer outro presente. É sério mesmo. Eu sinto isso.

Posso sair com você um dia desses e ler um poema no banco da praça, eu posso te convidar para um pão com geléias na minha casa, posso dançar uma haikai para você: só pra você. Posso te dar o que eu tenho de mais sincero. Aquilo que sei fazer, aquilo que acredito que vai nos colocar mais em contato com o “ser”.

Podemos assistir um vídeo lindo juntos(as). Minha sugestão, mas topo outra: “Crianças invisíveis”. Pode pegar na locadora, se você não tiver tempo para assistir comigo. É indescritível.

Não vou te dar presente comprado na loja. Nem espere. Eu me disponho a estar perto de você para falar de sustentabilidade humana. Preste atenção. Eu não vou te dar nenhum presente.

Minhas queridas filhas: Branca e Preta. Genros também: o que vocês preferem? Um poema no banco da praça, um haikai, um picnic no quintal da casinha, uma conversa longa ao telefone ( com a preta e com o Caíque tem que ser assim) sobre a vida, sobre a farra das cachorras aqui de casa?

Gente, as três cachorras: Sá, Brisa e Bela são divertidíssimas e não esperam nenhum presente meu, a não ser meu afeto sincero. Isso é tudo. Parei de comer carne vermelha e frango esse ano por causa delas. Elas me olham com um amor sem fim.

Preta: posso ler pra você um poema ao telefone. Ou dançar um haikai por vídeo conferência. Ou ainda, melhor ainda: podemos rir ao telefone, horas a fio. Isso é simplesmente regenerador. Ouvir sua risada não tem nenhum preço do mundo que pague. Então vamos fazer uma troca: Você ri e eu te conto algo que possa te servir de apoio, de alegria. Vamos continuar fazendo nossas conversas ao telefone, pela interntet ficarem cada vez mais sensoriais. Não vou comprar nada pela internet. Acreditem! Só vou usá-la para encontrar, “encomprar” nem vê@!

Olha. A todos vocês aos quais eu endereço essa carta. Não me levem a mal, nem me achem mal educada. Mas começo hoje, a colocar em prática os pequenos discursos que vou fazendo ao longo dos anos em reuniões familiares, profissionais, em conversas preciosas com amigos. A vida para o consumo não me atrai. Eu quero mais. Quero o calor e a energia da sua presença. Quero o compartilhamento sem nenhum interesse extra. Quero ler pra você um poema. Dançar pra você um haikai.  Não é papo furado, ou conversa mole, ou romantismo barato, papo de artista. Eu quero mais, muito mais que esse tédio de TER QUE... Quero “SER TÃO: Travessia perigosa”.

O Du... com esse eu nem preciso me desculpar. Ele nunca acreditou em papai noel mesmo.Nunca deu importância de fato para isso. Então, para ele o meu amor porque ele é culpado por eu ir mudando e “Sendo” sem ter que...

Um abraço grande, farto e gordo. Fica aqui meu convite natalino.  Posso mesmo ler um poema no banco da praça ou dançar um haikai só pra você!

Fe com fé na filósofa tia do docinho aqui de UDIA: um dia vai dar certo!




Nenhum comentário:

Postar um comentário